Como seria a sociedade sem uma mulher para cuidar e para realizar os trabalhos domésticos?
O principal exame para a entrada no ensino superior no país, divulgou os resultados de 2023, disponíveis no site do Inep. Enquanto isso, o tema da redação do Enem, que movimenta milhares de estudantes em todo o Brasil, ainda reverbera na sociedade.
O tema sugerido tem como objetivo apresentar um problema para ser resolvido durante a escrita da redação. Os “desafios da invisibilidade do trabalho feminino” foi o tema que gerou discussões em 2023 e reflete questões que as mulheres vivem no cotidiano.
No Brasil, uma pesquisa do IBGE realizada em 2022, revelou que 92,1% das mulheres foram responsáveis por afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas. Na comparação aos homens, elas gastam em média 9,6 horas por semana a mais em trabalhos não remunerados.
A pandemia do covid-19 agravou e expôs problemas sociais, entre eles o registro de mais de 320 mil crianças sem o nome do pai em 2020 e 2021. Os dados são da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais, referentes aos cartórios de registro civil de todo o país. A pesquisa revela uma exigência ainda maior na carga horária de afazeres da mulher brasileira.
Uma das exigências da redação é que o candidato proponha uma ação prática que solucione a questão. Com isso, cresce a expectativa de medidas concretas que reconheçam e valorizem o trabalho feminino do cuidado. A realidade do trabalho não remunerado é resultado do paradigma construído de que mulheres são biologicamente predispostas ao cuidado.
O trabalho consiste em horas de dedicação em cuidar da casa, dos filhos, de pessoas idosas e todas as circunstância que envolvem a rotina do lar. Todos nós precisamos de cuidados para existir. Os cuidados que nos acompanham até a vida adulta passam pelo trabalho desempenhado majoritariamente por uma mulher: a mãe, a avó, a tia, há sempre uma mulher por perto. Responsável pela alimentação, remédios, vacinas, limpeza e higiene, educação, entre outras funções, como: limpar, lavar e assim adiante.
A Secretaria Nacional de Cuidados e Família, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), afirma que a expectativa é de que em maio de 2024 o Governo Federal apresente um marco normativo de reconhecimento do trabalho do cuidado e direitos de quem cuida, ampliando políticas públicas já existentes e criando outras. Uma consulta pública foi aberta para a construção do marco conceitual
De acordo com a Secretária Laís Abramo: “O cuidado é um trabalho. Envolve afeto e amor, mas é um trabalho. A sobrecarga de trabalho sobre as mulheres, o fato de não ser dividido adequadamente entre as famílias, faz com que as mulheres tenham que dedicar um tempo enorme a esse trabalho de cuidados, e isso muitas vezes impede que elas exerçam seus direitos em outros âmbitos das vidas como, por exemplo, a conclusão da sua trajetória profissional e inserção no mercado de trabalho”
Acesso amplo à creche desde os primeiros anos da infância, licença parentalidade iguais para homens e mulheres são apenas algumas das medidas necessárias na condução de uma sociedade mais justa e equitativa.
Curiosidade:
Tempo de amamentação 20 minutos, de 8 a 12 vezes por dia, 7 dias por semana, por 6 meses = 650 horas de trabalho apenas nos primeiros meses.