Desfile polêmico da Vai-Vai: Hip Hop, polícia e críticas

Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua E do Povo o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano 

O hip Hop tem 40 anos de cultura no Brasil e a influência dessa cultura sobre a cidade de São Paulo pode ser vista, ouvida e sentida. Uma cultura que influenciou diretamente aqueles da Geração Y, nascidos entre 1980 e 1995, que conhecem, ou pelo escutaram em algum momento, a canção que inspirou o samba enredo da agremiação “Vai Vai” – “Capítulo 4, Versículo 3” dos Racionais MCs, faz parte do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, o segundo dos Racionais MCs, que foi lançado em 1997.

O disco desenvolve questões como exclusão, racismo e violência policial. O mesmo álbum incomodou a polícia na época de seu lançamento por soar como uma provocação. Repete o incômodo 31 anos depois. Apesar de polêmico, além de vender meio milhão de cópias na época, a prefeitura de São Paulo presenteou o Papa Francisco, e as letras das músicas se tornaram leitura obrigatória no vestibular da Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas, em 2020.

O enredo da Vai-Vai, somado a uma ela representando o Batalhão de Choque, sob o nome de “Sobrevivendo ao inferno”, usou fantasias com chifres e asas vermelho-alaranjadas, fazendo alusão a demônios. A escola de samba encerra o desfile com a estátua de Borba Gato pichada e incendiada. Nada de novo, visto que representa manifestações ocorridas recentemente com a mesma cena, porém com a verdadeira estátua em praça pública de São Paulo.

Uma nota de repúdio foi divulgada pelo sindicato dos delegados de polícia do Estado de São Paulo. Segundo eles, a representação que ocorreu na avenida corresponde à “demonização” da Polícia.

É legítimo que o momento vivido pelo país converta manifestações artísticas em polêmicas. O papel da arte se concentra em provocar reflexões profundas que não podem e não passaram em vão.

Assim como os Racionais Mcs provocaram com a sua música, a escola de samba reverbera uma realidade que não é unânime, visto que os trabalhadores que estão na comissão de frente do combate ao crime, muitas vezes trabalham em condições precárias e adversas, sob o custo de suas próprias vidas.

Os índices de mortalidade da população preta e periférica continuam altos, como naquela época. Enquanto isso, os salários dos policiais ainda não são correspondentes ao risco de sua vida e sua família. O momento reflete a urgência de cobrarmos dos administradores deste país, por mais políticas públicas e de segurança de qualidade.

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