Do samba ao funk como crônica da vida
O livro “Do batuque à batida – do samba ao funk como crônica da vida” explora as formas de resistência das classes periféricas a partir da expressão artística musical
A obra é resultado de uma profunda pesquisa realizada pelo autor Odair Dias Filho, assistente social, historiador, cientista social, professor universitário e ativista na defesa dos direitos humanos e na luta antirracista.
Às vésperas das comemorações do carnaval, é um excelente momento para conhecer a obra, refletir e debater a formação social do Brasil, construída e estabelecida com o racismo estrutural.
“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, cantou Elza Soares, que fez e faz história segurando esse país no braço. “
Além de fazer parte da cultura e da identidade do brasileiro, o samba é patrimônio imaterial do Brasil. Símbolo da cultura negra, perseguido no passado e exaltado no presente, o samba reúne pessoas, traz alegria, movimenta a economia, define e molda o caráter de uma nação.
O funk, considerado parte de uma cultura periférica e negra, ainda hoje é discriminado. Enquanto o samba era abordado pela polícia, com prisões e apreensões de instrumentos, o funk é relacionado ao narcotráfico e criticado pela recorrência do corpo feminino como objeto, em letras bastante populares.
Atualmente o samba é celebrado como hino de um povo que sustenta bravamente o seu país. Enquanto o funk, com sua variedade de ritmos ainda é segregado, embora sua batida, 150 bpm, se estabeleceram e alcançaram sucesso nacional e internacional.
Ainda que não agrade uma camada bastante densa da população, algumas versões fazem sucesso no final das festas e famílias inteiras se chacoalham alegres quando a rainha do funk canta o Show das poderosas.
Do batuque à batida, somos todos humanos que apreciam agir e estar em comunidade. O livro de Odair demonstra entre letras de música e leis, que a resistência precede o sucesso, embora ainda precisemos contribuir muito com uma cultura antirracista.
Apesar das dores de nossos antepassados e daqueles que ainda resistem, o canto ainda é uma maneira de resistir e existir.
Entre a batuque do tambor e a batida do corpo, a alma resiste